1 de maio de 2009

Carismáticos x Tradicionais: A Igreja Se Divide?

Eis aí uma questão difícil na Igreja Católica: por que Carismáticos e Tradicionalistas não se misturam? A Renovação Carismática, movimento da Igreja Católica que trabalha espiritualidade e oração, chegou ao Brasil há aproximadamente 40 anos. Porém, o movimento carismático católico sempre teve, desde seu início, muitas semelhanças com o protestantismo em sua metodologia de trabalho e expressão da fé. Ao longo dos anos esse movimento, chamado de RCC – abreviatura de Renovação Carismática Católica – começou a sofrer mudanças, tomando mais a “cara” e o jeito do fiel católico e da própria Igreja.
Primeiro vamos esclarecer uma coisa: coloquei o termo “carismático” por ser a forma mais conhecida de classificar um membro participante da RCC. Porém, não seria correto usar este termo porque toda a Comunidade dos filhos de Deus, entronizados na família católica pelo Sacramento do Batismo, é carismática. Por quê? Porque todo batizado recebe os dons do Espírito Santo. Todos recebem os dons e logo podem descobrir quais são seus carismas. Por exemplo: recebemos o dom do conselho, dom de ciência, dom de sabedoria, entre outros. Todos podem ser pregadores, intercessores, ministros de cura, de aconselhamento, acolhedores. Cada indivíduo detém em seu coração os dons do Espírito Santo. Mas um ou dois destes dons se manifestam em nosso interior e em nossa vida como chamado de Deus no projeto da evangelização, portanto, como missão. Esse dom que nos leva a conhecer e assumir nossa missão é chamado de “carisma”. Como todos são fiéis missionários, que devem tomar parte na missão comum da Igreja – Evangelizar – e em nossa missa particular, determinada por nosso carisma, somos todos fiéis CARISMÁTICOS, sendo ou não membros participantes e/ou atuantes da RCC. Sendo assim, os chamados “tradicionais”, que são maioria da Igreja, também são carismáticos.
Agora podemos discutir e responder a pergunta de hoje: Por que “carismáticos” e tradicionalistas não se misturam?
Vamos fazer uma viagem no tempo e voltar dois mil anos na história. Jesus chama os doze e os envia em missão. Após Sua Paixão e Morte Ele ressuscita e chama Pedro a apascentar seu rebanho (Jo 21, 15-17). Pedro torna-se, assim, o chefe e Pastor do grupo dos Apóstolos. Este grupo cresce e logo se forma a primeira comunidade cristã (Atos 2). Pedro viveu com Cristo, viu todas as Suas obras e ouviu de Sua própria d’Ele Seus ensinamentos. Homem de coração puro, fiel a Cristo, porém pouco estudado e, portanto, um tanto cabeça-dura. No outro lado da moeda temos Saulo. Homem inteligente, estudado, profundo conhecedor da Palavra de Deus, até então escrita – Antigo Testamento – que perseguia os cristãos por achar que Jesus e Seus seguidores feriam as leis do Antigo Testamento, sem ter a sensibilidade de perceber que o que acontecia ali era a manifestação do grande Amor de Deus para com o homem pecador e miserável. Mas Saulo recebe a visita do Senhor que o faz viver uma das mais belas conversões citadas na Sagrada Escritura (Atos 9) e sua mudança de vida é tão profunda que passa a se chamar Paulo (Atos 13, 9), assumindo não só nova identidade como nova missão. Paulo, por ser um líder nato, tem desejo de evangelizar novos fiéis, enquanto Pedro, muito rígido, prefere permanecer com os cristãos da região de Nazaré e da Galiléia.
E é aí que encontramos o ponto das diferenças entre opiniões. Pedro e Paulo percorreram caminhos diferentes, mas tornaram-se os maiores responsáveis pelo crescimento e expansão do cristianismo nos primeiros séculos. Mas os dois discordavam muito em suas opiniões. E é justamente depois de uma discussão entre os dois que Pedro permanece em Roma cuidando dos cristãos e Paulo sai a evangelizar os pagãos, contrariando a vontade de Pedro.
O que não podemos esquecer é que a Igreja Católica foi liderada por Pedro, primeiro pastor dessa Igreja, primeiro Papa, tendo seu apostolado se prolongado ao longo dos últimos dois mil anos através da sucessão apostólica chegando aos dias de hoje tendo o Papa Bento XVI como atual Pedro. Por esse motivo, o catolicismo chega ao segundo milênio ainda seguindo os passos evangelizadores de São Pedro, imitando seu espírito conservador. Porém, os seguidores de Paulo tornaram-se pessoas mais dinâmicas e ativas na missão evangelizadora. E a RCC seguiu essa metodologia. Enquanto o cristianismo toma a linha Petrina (seguindo a dinâmica conservadora de Pedro) a RCC surgiu dentro da Igreja como um movimento que segue a linha Paulina, mais dinâmica e “atrevida” no ministério da evangelização.
Não importa de que forma evangelizamos ou em que movimento ou pastoral da Igreja atuamos. O importante é compreender que somos todos membros da mesma Igreja, do mesmo Corpo Místico de Cristo, que somos a mesma família dos filhos de Deus e que somos irmãos em Cristo Jesus. Não importa onde e como trabalho pelo Reino de Deus. O importante é seguir com fé e respeito, obedecendo a Santa Mãe Igreja, adorando o Salvador e acolhendo os irmãos que precisam de atenção e instrução nos caminhos do Senhor. Porque no final das contas Pedro e Paulo divergiam em suas opiniões, mas trabalharam juntos e em comunhão e, em unidade, colaboraram para o crescimento e fortalecimento do cristianismo, animados pela graça abundante do Espírito Santo que emana do coração de Deus para o coração do homem.

Paz e bem!