Eis aí uma questão interessante: é mais fácil ou mais difícil evangelizar os evangelizados?
Primeiro é preciso definir o termo evangelizado: evangelizado é todo aquele que já tomou conhecimento da Palavra de Deus, de Sua graça redentora, de Sua ação amorosa, pela intervenção do Espírito Santo, através da efusão desse mesmo Espírito, pela manifestação dos dons e frutos, que nos levam ao serviço missionário e ao amor mútuo como filhos de um mesmo Pai, irmãos em Cristo Jesus.
Dito isto, possamos refletir: os evangelizados conhecem a Deus e conhecem também as bênçãos e maldições provenientes de suas ações e decisões. Conhecem o bem e o mal e tem pleno juízo para fazer distinção entre ambos. Todo evangelizado tem o desejo de ser como a vela que queima no altar, queimando para indicar a Luz de Deus, ser luz para os irmãos. Infelizmente, muitas vezes, suas velas acabam caindo do altar e ficando embaixo da mesa. São luz. Jesus diz “nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa” (Mt 5, 15). O Senhor reuniu Seu povo em Sua Casa (Igrejas, Comunidades, Fraternidades...) e constituiu líderes servidores entre este povo. Também constituiu ministros, catequistas, coroinhas, agentes de pastorais, entre outros. Todos somos essa luz que se queima no altar do Senhor.
O que faz, então, alguém que já sentiu o poder de Deus e a graça do Espírito Santo, afastar-se dessa graça e da comunhão dos filhos de Deus? Leia este trecho do Evangelho: “Um semeador saiu a semear. E, semeando, parte da semente caiu ao longo do caminho; os pássaros vieram e a comeram. Outra parte caiu em solo pedregoso, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque a terra era pouco profunda. Logo, porém, que o sol nasceu, queimou-se por falta de raízes. Outras sementes caíram entre os espinhos: os espinhos cresceram e as sufocaram. Outras, enfim, caíram em terra boa: deram frutos, cem por um, sessenta por um, trinta por um.” (Mt 13, 4-8). Veja, todos recebemos as sementes da Palavra de Deus. Porém, cada um as recebe de forma diferente. Portanto, cada um reagirá de forma diferente. Nem toda terra é boa. Mas toda terra pode ser terra boa. Basta que alguns terrenos sejam bem cuidados, adubados, remexidos.
É justamente isso que acontece com as velas que “caem” do altar e ficam com sua luz escondida. Conhecem seu chamado e sua missão, mas não conseguem responder sim a eles. Para evangelizarmos as pessoas que estão nessa situação precisamos, em primeiro lugar, orar por eles, interceder pela sua situação, para que voltem a sentir plenamente o Amor de Deus e sintam novamente essa chama ardente que queima no coração do homem no desejo de evangelizar, de ajudar os que precisam de ajuda. Amar como Jesus amou. Todos temos defeitos e somos pecadores. Portanto, amar o pecador. Aceitar seus erros e defeitos, porque só quem pode mudar as pessoas é Deus. Não somos nós que fazemos o Chamado. Não somos nós que convertemos. Apenas somos instrumentos nas mãos de Deus. Como instrumentos nas mãos de Deus precisamos estar calibrados na oração pessoal, na confissão, na comunhão Eucarística.
Para evangelizar os evangelizados, enfim, é preciso ter uma “carta na manga”. É preciso ter Sabedoria. Mais do que a inteligência, que é conhecer-se a si mesmo, a Sabedoria é dom de Deus, que ensina e orienta, e não nos deixa errar nas ações e decisões do dia-a-dia. Veja o que Salomão ensina sobre a Sabedoria: “Assim implorei e a inteligência me foi dada, supliquei e o espírito da sabedoria veio a mim... Com ela me vieram todos os bens, e nas suas mãos inumeráveis riquezas.” (Sab 7, 7.11). Salomão poderia ter pedido tudo a Deus. Mas pediu somente a sabedoria e a inteligência (vide 2Cron 1, 7-10). A esse pedido Deus responde: “Já que este é o desejo de teu coração, e não me pedes nem riquezas, nem tesouros, nem glória, nem a vida de teus inimigos, nem uma longa vida, mas me pedes sabedoria e inteligência a fim de bem governar o povo do qual eu te fiz rei, pois bem, a sabedoria e a inteligência ser-te-ão concedidas, mas também riquezas, tesouros e glória mais do que jamais possuíram os reis, teus predecessores, e que jamais possuirão teus sucessores” (2Cron 1, 11-12). Mas não se deve pedir a sabedoria para benefício próprio. Deus disse “Já que este é o desejo de teu coração...” (versículo 11). Deus sonda o coração do homem e sabe as intenções de cada indivíduo. Ninguém pode enganar a Deus. Do contrário, está enganando a si mesmo. Pedir a sabedoria com coração sincero é receber graça e paz da parte de Deus. E, com esta sabedoria que vêm do Alto, podemos evangelizar os evangelizados sem ferir sua liberdade e seus sentimentos, lembrando sempre que quem resgata o homem é Deus, mas que podemos nos colocar a Sua disposição como instrumento de evangelização.
Evangelizar os evangelizados não é fácil, mas "tudo é possível ao que crê" (Mc 9, 23).
Paz e bem!
15 de abril de 2009
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Importante nunca esquecermos nossa pequenez. Nada podemos fazer sem a permissão de Deus e tudo o que fazemos é porque permitimos ser utilizados como instrumentos em Suas mãos.
ResponderExcluirQue todos tenhamos a alegria e a coragem [muito importante também!] de servir. ;)